Brasil dá um basta no adoecimento silencioso: empresas agora são obrigadas a prevenir riscos psicossociais
Assédio moral, metas abusivas, jornadas exaustivas, isolamento, medo constante de demissão: tudo isso, que antes era naturalizado, agora tem nome, norma e punição
Publicado: 27/05/2025 às 16:29

(Freepik)
Desde ontem, 26 de maio, nenhuma empresa no Brasil poderá mais fingir que o sofrimento mental dos trabalhadores é problema pessoal. Entra em vigor a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que obriga todas as empresas a identificar, controlar e prevenir riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
Assédio moral, metas abusivas, jornadas exaustivas, isolamento, medo constante de demissão: tudo isso, que antes era naturalizado, agora tem nome, norma e punição. As organizações devem incluir esses fatores em seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR), promover ações preventivas e capacitar líderes para lidar com o emocional das equipes.
É o fim da cultura do “aguente firme”. Pela primeira vez, a legislação reconhece que ambientes tóxicos não são força de expressão, mas risco real à saúde e à vida. A nova regra impõe que empresas cuidem não apenas da segurança física, mas da integridade emocional de seus colaboradores.
Neste primeiro ano, a fiscalização será educativa. Depois, será implacável. Multas, processos e danos à imagem esperam quem ignorar a nova realidade. Assim, o Brasil acorda para uma verdade inadiável: lucro que adoece não é sucesso. É negligência. A norma marca um divisor de águas e inaugura uma nova era, em que o trabalho digno inclui saúde mental como prioridade, não como discurso.
INCLUIR PARA PROTEGER: MULHERES INDÍGENAS ENTRAM NO RADAR DA POLÍTICA CONTRA A VIOLÊNCIA
Em um avanço histórico, o Senado Federal aprovou, por meio da Comissão de Direitos Humanos, o Projeto de Lei 2.799/2024, que propõe a inclusão de mulheres indígenas e de comunidades tradicionais nos planos de combate à violência doméstica. A iniciativa, de autoria da senadora Damares Alves, reconhece que não há justiça possível sem respeito às singularidades culturais desses grupos.
A proposta determina que os programas e metas de enfrentamento à violência em a contemplar a realidade de mulheres que vivem fora dos grandes centros urbanos, muitas vezes invisibilizadas pelo sistema. Trata-se de um gesto político necessário para enfrentar desigualdades estruturais que atravessam raça, território e gênero.
Ao seguir para a Câmara dos Deputados, o projeto carrega a expectativa de transformar o enfrentamento à violência em uma política mais justa, plural e inclusiva, que não deixe nenhuma mulher para trás.
RASEAM 2025: RETRATO DA DESIGUALDADE DE GÊNERO E CHAMADO URGENTE À AÇÃO
O Ministério das Mulheres lançou o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM 2025), um mapeamento robusto da realidade das brasileiras por meio de 328 indicadores. O estudo revela desigualdades persistentes e estruturalmente enraizadas nos campos da renda, educação, saúde, violência e participação política.
Entre os dados mais alarmantes está a constatação de que mulheres negras recebem, em média, 44% do rendimento de homens brancos, mesmo ocupando posições semelhantes. No Norte e Nordeste, as disparidades se acentuam: em alguns municípios, mais de 60% das mães adolescentes estão fora da escola.
Na saúde, o relatório aponta que mulheres de comunidades rurais e ribeirinhas têm menos o a exames preventivos, como o Papanicolau. A sobrecarga do trabalho doméstico também é evidente: brasileiras dedicam, em média, o dobro do tempo que os homens às tarefas do lar, o que impacta diretamente sua empregabilidade e desenvolvimento profissional.
Já na política, mesmo com leis de incentivo, a presença feminina ainda é tímida: menos de 18% dos cargos eletivos são ocupados por mulheres.
Assim, o RASEAM 2025 não é apenas um retrato estatístico, mas um alerta. Para que o país avance, é preciso enfrentar essas desigualdades com coragem, políticas públicas efetivas e compromisso com a equidade real.



