Promissor livro de estreia de Lucas Ferreira Araújo roteiriza os sentimentos de um apátrida do 3º milênio
José Nivaldo Junior Membro da Academia Pernambucana de Letras
Publicado: 14/05/2025 às 00:00
O personagem chama-se Gael. O título remete às Aventuras de um eterno Forasteiro. O autor tem apenas 22 anos. Ex-aluno do Colégio Santa Maria é graduado em istração. E tem como patrimônio uma madura, personalizada e inegável veia literária.
No seu livro de estreia, não imita nenhum grande nome da literatura brasileira ou mundial. Apresenta-se através da escrita, como um autêntico escritor original, em plena sintonia com o terceiro milênio. Lucas não copia, constrói. O livro é uma sucessão de surpresas em cada parágrafo.
Não é volumoso. Mas é denso, profundo, e, simultaneamente, de leitura fácil e envolvente. O principal: o roteiro não está no mundo exterior mas emerge de dentro do personagem. É do interior, das reflexões, da alma de Gael em seu percurso de navegador em busca dos continentes de percepções não descobertas que brotam sentimentos, constatações, novas construções intelectuais. Com a marca da originalidade e da sedução.
Um livro diferente, que situa o personagem como um eterno estranho, um forasteiro, quer seja em sua própria aldeia ou nos confins do mundo. O apátrida planetário cuja globalização real, a de sinal, trocado esqueceu de apagar as fronteiras. Pelo contrário, as fortaleceu. Paradoxalmente, no mundo exterior a Gael, o progresso tecnológico renovou a força das mais enraizadas ideias reacionárias. Isso não parece incomodar o personagem na sua caminhada interior. Ao invés de Lucas, o autor, puxar Gael, esse é quem puxa Lucas, o autor.
O jovem escritor cumpre, aliás, sua predestinação de profeta. Arauto de uma nova literatura, da qual está fadado a ser um dos pilares. Um escritor autêntico, genuíno, de talento não apenas muito promissor: com potencial sem fronteiras. Mas não só uma promessa. Um autor que já entrega bastante e ainda promete muito mais. “Será que se eu tivesse lido Voltaire, Nietzsche e Kant, teria tomado melhores decisões na minha vida?”. É a primeira e instigante frase do livro, anunciando o fascinante e envolvente texto que se segue. Proclamando o nascimento de um escritor, autêntico como se fora um Dostoievski que trocou de século e de paisagem.
Ao invés das estepes, o oceano infinito que banha o Recife. Ou como um Drummond desbravando os sertões da alma de um personagem do terceiro milênio. Um escritor, como, como, como quem mesmo? Difícil encontrar mais comparações. Um escritor de verdade, autêntico e original. Como Lucas Araújo. Não um mero contador de histórias, vai muito além.
O livro de Lucas é à prova de rótulos. O jovem autor tem um desafio. Não ter medo do peso do próprio talento e prosseguir na trilha que escolheu, original e rica. Para além dos clichês. Tudo isso deságua em texto cristalino, margeado por rara originalidade. Texto que desafia e, ao mesmo tempo, encanta o leitor. Com o tempero do quero mais.

