'Clair Obscur: Expedition 33' eleva nível de RPGs com beleza em todos os sentidos
Game faz jus ao hype e põe primeiro jogo de estúdio francês na prateleira dos grandes lançamentos
Publicado: 23/04/2025 às 06:01

/Divulgação//Sandfall Interactive
Um dos jogos que mais atraiu a curiosidade dos fãs de games nos últimos meses está entre nós. Vindo de um estúdio pequeno onde cerca de 30 pessoas trabalharam em seu desenvolvimento, 'Clair Obscur: Expedition 33' foi tratado como um dos possíveis destaques do ano, dividindo espaço com os 'triple-A' e chamando atenção pela sua aparente qualidade gráfica, elenco estrelado, enredo interessante e pelo combate por turnos com inovações.
Trazendo juventude misturada à inspirações clássicas, a sa Sandfall Interactive surpreendeu ao revelar o tamanho de seu primeiro projeto. O pequeno estúdio de Montpellier traz aqui uma ambição sadia, misturando elementos que conquistaram a atenção do público e até uma base considerável de fãs antes mesmo do lançamento de seu game de estreia.
'Clair Obscur' se a na França, em um lugar conhecido por Lumière, que foi separado do resto do país após a chegada da Artífice, uma entidade sobrenatural misteriosa que causa uma onda de mortes a cada vez que pinta em seu colossal monólito, exposto no horizonte para todos verem. Desde então, uma expedição é enviada ao continente todos os anos para tentar derrotar essa entidade e descobrir como corrigir os eventos que destruíram não só a terra, mas famílias e esperanças. Agora, 67 anos após a chegada da Artífice, a Expedição 33 pretende dar fim ao caos e vingar suas perdas.
'CLAIR OBSCUR: EXPEDITION 33'
Explicitamente inspirado na Belle Époque sa e no movimento artístico de mesmo nome, 'Clair Obscur' é um deleite visual. Desde o primeiro segundo, somos apresentados a um mundo fantástico formado por cenários de encher os olhos, cheios de representações artísticas que vão de um sonhador Surrealismo até belas paisagens de natureza Impressionista. Partindo do ponto inicial, o jogo nos situa em um mundo belo, mas desesperançoso pela presença da Artífice e seu monólito, que parecem sempre nos vigiar com sua intimidadora contagem regressiva, a quem somos apresentados logo no começo. Isso se reflete nas paisagens que parecem ter parado no espaço-tempo, que nos submerge de cara neste universo.
A sequência inicial apresenta intuitivamente e de forma interessante os principais elementos do jogo: o enredo, as interpretações e o combate.
[SAIBAMAIS]
Envolto por fantasia, o enredo nos traz personagens cativantes, potencializados por interpretações surpreendentemente competentes - não pelos nomes, mas pelo entrosamento com e entre os personagens. Gustave, o líder da expedição, é trazido a vida pelo carismático Charlie Cox (Demolidor, da Netflix), Maelle, sua irmã de consideração, pela queridinha da indústria Jennifer English (Baldurs Gate 3) e o vilão, o misterioso Renoir, pelo multitalentoso Andy Serkis (Senhor dos Anéis), além de outros conhecidos dos games, do cinema e da televisão. Todo esse elenco dá ao desenvolvimento dos personagens um grande destaque, ao ponto em que elementos como a expressão facial, modelagem, interpretação e, principalmente, o texto, ajudam a criar uma história que gera interesse nos primeiros minutos.
Um exemplo disso é o relacionamento fraternal do Gustave e da Maelle, que dividem o protagonismo. Por questões da trama, os dois são bastante próximos e ambos são apresentados já no primeiro minuto, exemplificando de maneira inteligente o que podemos esperar do resto da história: uma mistura entre as questões pessoais dos personagens com a ideia de que eles precisam sobreviver juntos como grupo. As relações são bem colocadas no roteiro, que valoriza as motivações de cada um e faz com que eles se desenvolvam juntos, contando com pontos corajosos em um mistério envolvente que dura boas horas.
A ideia de cooperação também está presente no combate, outro pilar do jogo. Abertamente inspirado nos JRPGs, o combate por turnos é apurado tanto visual quando mecanicamente. Permitindo combinar habilidades dos personagens de sua 'party' e criar estratégias para grandes e pequenas lutas, o dinamismo criado pela mistura entre as tradicionais ações por turnos carregadas por pontos e a presença de elementos em tempo real obrigatórios como a esquiva - mais fácil - e o parry - mais difícil -, fazem o combate ser detalhado, dinâmico e divertido.
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O leque de inimigos é amplo e a variedade de ataques aumenta conforme sua dificuldade, que desafia o jogador a combinar novos ataques e pensar em estratégias para as lutas contra um ou vários oponentes. Porém, partir de certo momento do jogo, o combate contra os inimigos menores pode se tornar um pouco repetitivo, já que essas lutas se tornam bem fáceis conforme os personagens evoluem e só são 'puláveis' se você correr deles - o que nem sempre é permitido já que os mapas são bem objetivos.
O level design simples ajuda no dinamismo da gameplay, mas ainda abre espaço para a exploração, que aqui é tratada como opcional, mas oferece opções divertidas de combate, obtenção de itens e cosméticos, e ainda traz recompensas misteriosas para os jogadores mais atenciosos. Todos os biomas são bem objetivos e não oferecem dificuldades para os jogadores seguirem a história, com uma construção que pode lembrar alguns jogos 'soulslike' de menor escala. Aqui, fica a observação para alguns ambientes apertados, que mostra a simples inteligência artificial dos companheiros não controlados, que ficam perambulando sem rumo e podem entrar na sua frente.
O casamento dessa simplicidade física dos espaços com a maravilhosa direção de arte torna os mapas e cenários brilhantes, oferecendo ao jogador a imersão ora carismática e colorida, ora sombria e pesada. Para além do deleite visual já mencionado da ambientação, os detalhes contam muito para o jogo, onde destacam-se o design dos inimigos e companheiros, os efeitos cintilantes usados no combate e a quantidade de elementos em tela, balanceados para uma boa imersão.
O som reforça isso tudo, já que além da dublagem e efeitos polidos, temos aqui uma trilha sonora que é, no mínimo, especial. Ultraando os limites da subjetividade, a OST (Original Sound Track) de 'Clair Obscur' deverá ser uma unanimidade pela delicadeza de suas faixas mais reflexivas e a elegância e dinamismo que envolvem as grandes lutas, que servem bem seu papel de animar o jogador para os bons combates. A trilha sonora eleva a experiência do jogo e, junto às interpretações, a beleza da ambientação e uma boa história, fazem 'Clair Obscur' ter um tom cinematográfico e chique.
Mostrando que sempre vale apostar nos pequenos começos e na vontade dos desenvolvedores independentes de quebrar barreiras e rejuvenescer a indústria, 'Clair Obscur: Expedition 33' é um jogo que não para de evoluir e exala carinho de seus criadores, que não tiveram medo de apresentar mais um universo fantástico que é uma ótima soma ao mundo dos games.
*Uma chave do jogo foi enviada pela Kepler/Sandfall Interactive para a produção deste texto.